No tratamento endodôntico, realiza-se a obturação do canal radicular, e este procedimento busca prevenir ou tratar o desenvolvimento de lesões perirradiculares, devolvendo saúde ao elemento dental. Neste texto vamos descrever tudo que você precisa saber sobre a obturação do dente.
Tratamento endodôntico e a obturação do dente
A taxa de sucesso do tratamento endodôntico aumenta com o passar dos anos devido ao aperfeiçoamento das técnicas, materiais e do profissional.
Contudo, o sucesso do tratamento, é determinado somente após alguns anos de sua execução, pois depende de muitos fatores que poderão ser observados a longo prazo. Um dos fatores determinantes do sucesso é a execução correta da técnica para a obturação do dente.
Sucesso da obturação dentária
Portanto, para a execução da técnica de obturação do dente é fundamental serem seguidos princípios biológicos, científicos, e mecânicos, pautados no conhecimento da anatomia interna do dente.
Qual o objetivo da obturação do dente?
Um canal radicular vazio, mesmo estéril, forma um tubo de ensaio, coletando líquidos teciduais e exsudatos inflamatórios provenientes das regiões ao redor ápice.
Todavia, os microorganismos encontram ambiente propício à instalação, gerando produtos tóxicos e irritantes aos tecidos da região periradicular.
Sendo assim, o objetivo da obturação é o selamento de toda cavidade endodôntica, abrangendo a sua abertura coronária até o seu término apical. Portanto, o material obturador deve preencher todo o espaço ocupado anteriormente pela polpa dentária, promovendo um selamento tridimensional.
Falhas no selamento radicular
Todavia, uma obturação defeituosa, deixa espaços vazios na região radicular e não promove o selamento do forame radicular, sendo assim, não impede a penetração de serosidades que propiciam um meio nutritivo favorável à multiplicação de germes e o conduto passará a comportar-se como foco de infecção, criando reações inflamatórias periapicais.
Em suma, para a realização da obturação do dente, é fundamental que esta seja feita sob condições de boa tolerância tecidual, utilizando-se material biocompatível, propiciando aos tecidos periapicais o processo de cura e reparação tecidual.
Preparo biomecânico
O preparo biomecânico visa a modelagem e a sanificação dos canais radiculares, promovendo a limpeza e desinfecção, portanto, aumentando a permeabilidade dentinária.
Sendo assim, esse preparo executado corretamente, os túbulos dentinários ficarão expostos, ocorrendo a remoção do magma. Consequentemente promoverá o aumento na adesividade do material obturador às paredes do canal radicular.
Portanto, a relação existente entre o preparo químico mecânico e a obturação é extremamente importante, em especial quando falamos do adequado limite apical.
A instrumentação radicular em dentes com polpa vital é de 1,0 a 1,5mm aquém do vértice radiográfico.
Porém, nos casos de necrose pulpar, o limite para a instrumentação é de 0,5 a 1,0mm aquém do vértice radiográfico. Sendo assim, a modelagem com conicidade gradual, sendo maior diâmetro cervical e menor apical, contribuindo para a limpeza e desinfecção do sistema de canais radiculares.
Técnica do preparo prévio a obturação do dente
Como citado anteriormente, a correta execução do processo de modelagem do canal permite a entrada tanto dos cones de guta percha, quanto do cimento obturador sem a formação de bolhas ou a deformação dos cones.
Para a realização de uma boa técnica seguem-se alguns passos:
Abertura e debridamento
Sendo assim, promova uma abertura adequada para sua visualização, lembre-se: pequenos preparos grandes problemas! Seja conservador, mas faça uma abertura suficiente para a facilitação do seu procedimento.
Segue então a forma de conveniência e direção apropriadas para cada grupo dentário. Faz-se, portanto, toda a remoção do teto da câmara pulpar, irrigação e aspiração.
Exploração da entrada do canal e instrumentação
Em suma, com instrumentos de fino calibre, segue-se com o preparo da entrada do canal ou preparo cervical, momento muito importante para se obter a adequada conicidade.
Portanto, continuam os passos da instrumentação, unindo os terços cervical, médio e apical, de forma tronco-cônica gradual, com maior diâmetro cervical e menor apical.
Quando se utiliza brocas Largo e Gates-Glidden, por exemplo, a modelagem deve ser minuciosa, tornando a cavidade cônica, sem a presença de degraus.
Obturação do dente
Sendo assim, após o preparo completo, normalmente na segunda sessão, avalia-se o pós-operatório, o qual deve ser feito no mínimo 72 horas após o preparo e o paciente não deve relatar dor.
Portanto, caso tenha ocorrido dor, ela não deve ter ultrapassado as primeiras 48 horas e clinicamente o paciente não deve sentir dor à palpação apical ou à percussão vertical e horizontal.
Sendo assim, seguem-se os passos para a obturação do dente.
Obturação dos canais radiculares
Irrigação
Após a remoção do restaurador provisório faz-se a irrigação e aspiração dos canais radiculares com hipoclorito de sódio 1%, promovendo a remoção da medicação intracanal
Instrumentação
Repassar a instrumentação do canal com o último instrumento utilizado no preparo, sempre irrigando a aspirando no intervalo de cada lima.
Observe se há exsudação hemorrágica, serosa ou purulenta, caso não haja, procede-se à manobra de irrigação e aspiração com 5ml (no mínimo) de EDTA 17% por canal deixando o produto agir no canal por 5 minutos.
Prova do cone principal
Sendo assim, selecione o cone principal de diâmetro igual à lima principal do preparo de cada canal, utilizando testes visual, táctil e radiográfico. Em seguida, desinfete o cone principal e os secundários, colocando-os num pote dappen repleto de hipoclorito de sódio a 1%.
Secagem do canal radicular
Portanto, enquanto os cones estão em imersão para desinfecção, promova a secagem do canal utilizando cones de papel absorventes adequados ao tamanho do preparo do canal.
Normalmente, utiliza-se no máximo 3 cones de papel para secar adequadamente o canal, se os cones de papel ainda evidenciarem a presença de umidade-exsudação após esse número, provavelmente estamos diante de um processo inflamatório persistente ou contaminação residual.
Sendo assim, o indicado é realizar novamente um curativo de demora e obturar em outra sessão.
Cimento endodôntico
Em seguida, promova a secagem dos cones de guta percha com gaze e faça a manipulação do cimento endodôntico. Sendo assim, o cone principal deve ser utilizado para levar o cimento para o interior do conduto.
Coloque um pouco de cimento na ponta do cone e ao interior do canal radicular, pincelando as paredes do conduto de apical para cervical, tome o cuidado de não bombear cimento para o forame, o que poderia provocar extravasamentos.
Repita esse procedimento até que o cimento flua para a câmara pulpar.
Condensação dos cones
Para a completa obturação do dente, faça a condensação lateral dos cones utilizando os espaçadores digitais compatíveis com o tamanho do preparo do canal radicular.
Corte dos cones
Sendo assim, o corte dos cones é realizado com calcadores de Paiva aquecidos e posteriormente faz-se a condensação vertical a frio com os calcadores.
Restauração e selamento coronário
Portanto, após a limpeza da cavidade com bolinhas de algodão embebidas em álcool realiza-se a restauração provisória ou definitiva.
O tratamento endodôntico só pode ser considerado concluído, apenas quando for realizada a restauração definitiva do dente tratado, sendo o perfeito selamento coronário, uma das exigências para o sucesso endodôntico.
Conclusão
No tratamento endodôntico, realiza-se a obturação do canal radicular, e este procedimento busca prevenir ou tratar o desenvolvimento de lesões perirradiculares, devolvendo saúde ao elemento dental.
Em suma, para que a obturação do dente tenha sucesso é necessário que sejam seguidos corretamente os passos da técnica e o tratamento só é considerado concluído após a restauração do elemento dental.