Com a era dos preenchimentos é importante a conscientização em relação a possíveis intercorrências e complicações que podem acontecer, como, por exemplo, a necrose labial. A saúde dos lábios desempenha um papel crucial na qualidade de vida dos pacientes, e a necrose labial pode impactar significativamente não apenas a estética, mas também a funcionalidade e o bem-estar emocional dos indivíduos.
Pensando nisso, este artigo explora o que é a necrose labial, as causas, sintomas e estratégias de manejo para prevenção e cuidados, destacando a importância da colaboração entre os profissionais da odontologia para oferecer soluções eficazes.
O que é necrose labial?
O termo necrose se refere a morte de célula ou tecido orgânico e pode estar associada a diversos fatores. Por isso, é possível uma separação em tipos de necrose conforme a causa, como:
- Necrose coagulativa: causada por falta de suprimento sanguíneo
- Necrose caseosa: associada a infecções granulomatosas, como na tuberculose.
- Necrose gangrenosa: relacionada a falta de suprimento sanguíneo, classificada como úmida ou seca.
- Necrose liquefativa: observada em infecções bacterianas
- Necrose fibrinosa: condições autoimunes.
Portanto, necrose labial representa a morte celular prematura dos lábios, por conta de alguns dos fatores acima, alterando sua forma, volume, e até sua função.
O que causa necrose labial?
Como foi dito, uma necrose pode ser causada por diversos fatores, entretanto, o causador mais comum quando se trata dos lábios é a falta de suprimento sanguíneo, consequência de uma oclusão vascular. O procedimento mais responsável por essa oclusão é o preenchimento com ácido hialurônico.
A necrose labial pós-preenchimento pode acontecer quando o ácido obstrui a artéria devido a excesso de produto ou quando o produto é muito denso. Com isso, o tecido labial recebe menos aporte sanguíneo, menos aporte de nutrientes e menos aporte de oxigênio, levando o tecido a falência.
Como saber se deu necrose nos lábios?
É comum ver uma insegurança em relação aos sintomas normais após um preenchimento labial e sintomas que podem ser indício de uma necrose. O perigo está quando casos que seriam fáceis de reverter, acabam sendo confundidos com sintomas normais, evoluindo para necrose, ou o contrário, quando casos em que o paciente apresenta sintomas normais, acabam assustando e causando um medo no paciente e insegurança no profissional.
Porém, é possível diferenciar um sofrimento tecidual de um edema e hematoma normais após procedimento, para que, assim, o dentista consiga tranquilizar o paciente ou agir rapidamente se necessário.
Pensando nisso, o profissional deve estar atendo a alguns sinais e sintomas que podem significar dano tecidual, como:
- Dor local, mesmo com analgésico ou anti-inflamatório
- Edema no local e região endurecida após cerca de 4 dias após o procedimento
- Hiperemia
- Pontos brancos parecidos com espinhas no local
- Coloração dos lábios alterada
- Feridas internas na mucosa
Se o paciente apresentar um ou mais dos sintomas, deve comparecer ao consultório para que o profissional confirme e, caso necessário, utilize de manejos para reverter o caso. Entretanto, se o paciente enviar fotos da região com coloração roxa/azulada sem apresentar dor local, nem hiperemia, nem edema, deve tranquilizá-lo, pois é um dos sintomas comuns que não apresentam riscos.
Como evitar a necrosa labial?
Primeiramente, para evitar que aconteça uma necrose labial após um preenchimento, é necessário que o profissional estude a fundo a anatomia vascular dos lábios, uma vez que, entender o suprimento vascular da região e os pontos de risco, mitiga consideravelmente intercorrências no procedimento.
Com esse conhecimento profundo da anatomia, o profissional deve se atendar em colocar os preenchedores em um plano muito superficial, com objetivo de não atingir as artérias. Além disso, a densidade do produto também é relevante para evitar a necrose, uma vez que produtos muito densos também são potenciais causadores,
Também existem formas de evitar a progressão de uma necrose após a realização do procedimento. Para isso, se faz necessário que o profissional peça que o paciente tire uma selfie e cada 2 horas nas próximas 6 horas após o procedimento, relatando se há dor ou formigamento e o profissional também conseguirá detectar se a cor do tecido continua saudável. Assim, além de deixar o paciente mais seguro com a assistência, caso tenha ocorrido algum erro, quando detectado dentro das 6 horas após procedimento, fica simples reverter o caso, utilizando a enzima hialuronidase. Esta enzima consegue degradar o ácido que está encarcerando a artéria, revertendo o caso.
Por fim, outra forma de evitar que aconteça a morte celular dos lábios é se atentar aos sinais instantâneos após injetar o ácido. Quando o profissional consegue detectar a isquemia imediata após a aplicação, basta fazer compressa com calor e massagem vigorosa, para liberar o fluxo, evitando a progressão do caso, sem a necessidade de uso da hialuronidase.
Como a hialuronidase reverte a necrose labial?
A hialuronidase é uma enzima que tem a capacidade de quebrar o ácido hialurônico, uma substância encontrada naturalmente no corpo humano e muito utilizada nos procedimentos de preenchimento.
Sendo assim, se utiliza frequentemente a hialuronidase para reverter o caso, uma vez que consegue quebrar as ligações do ácido hialurônico. Essa quebra resulta na dissolução do ácido, permitindo sua absorção pelo organismo.
O que ocorre após a necrose?
O que ocorre após a necrose dependerá de vários fatores, como: causa subjacente, extensão da necrose, tipo de tecido afetado e se ocorreu intervenção médica. Algumas possíveis consequências após a necrose são:
Inflamação e reparo tecidual:
Após a morte celular, o corpo inicia uma resposta inflamatória para remover os detritos celulares e iniciar o processo de cicatrização.
Células especializadas, como macrófagos, são recrutadas para limpar os restos celulares e promover a regeneração dos tecidos afetados.
Formação de cicatriz:
Em muitos casos, especialmente quando há uma perda significativa de tecido, o processo de reparo pode resultar na formação de cicatrizes. As cicatrizes são formadas pelo tecido de granulação, que preenche a área afetada e eventualmente se contrai, formando uma marca permanente.
Reconstrução tecidual:
Em alguns casos, especialmente em cirurgias reconstrutivas ou quando a necrose é tratada precocemente, pode haver tentativas de reconstruir o tecido perdido. Essa tentativa pode acontecer, por exemplo, por meio de enxertos de pele.
Complicações:
Em situações em que a necrose não é tratada adequadamente, ou se a causa subjacente não for controlada, podem ocorrer complicações graves, como infecções secundárias.
Recuperação funcional:
A recuperação funcional do tecido dependerá da extensão da necrose e da capacidade do corpo de regenerar tecidos saudáveis. Em alguns casos, a função normal pode ser comprometida, especialmente se a necrose afetar órgãos ou estruturas vitais.