A Síndrome de Eagle é uma condição rara e frequentemente sub diagnosticada, podendo causar um desconforto significativo nos pacientes acometidos. Entretanto, é uma doença complexa e muitas vezes difícil de diagnosticar.
Essa síndrome está associada as anormalidades anatômicas na região do osso estiloide e do ligamento estilohioideo, que se manifestam em uma série de sintomas, desde dor orofacial até dificuldades para engolir e problemas neurológicos.
Por ser uma condição que gera dificuldade de manejo entre os dentistas, neste artigo, exploraremos a fundo as características, causas, sintomas, diagnóstico e opções de tratamento para essa condição, além de fornecer uma visão geral da sua importância. Confira!
O que é a Síndrome de Eagle?
A Síndrome de Eagle é caracterizada pelo alongamento anormal do processo estiloide do osso temporal ou pela calcificação excessiva do ligamento estilohioideo.
O processo estiloide é uma pequena projeção óssea localizada abaixo da orelha, na base do crânio. Normalmente, esse processo mede entre 2,5 cm e 3 cm, mas, em pacientes com Síndrome de Eagle, ele pode se alongar até mais de 4 cm, causando compressão ou irritação das estruturas adjacentes, incluindo nervos e vasos sanguíneos.
A condição foi descrita pela primeira vez em 1937 pelo médico americano Dr. Watt Weems Eagle, daí o nome da síndrome. Eagle notou que os sintomas dos pacientes eram frequentemente atribuídos ao alongamento do processo estiloide ou à calcificação do ligamento estilohioideo.
Causas da Síndrome de Eagle
As causas exatas da Síndrome de Eagle ainda não são completamente compreendidas. Entretanto, existem evidências associando a condição a traumas ou cirurgias na área do pescoço e da garganta.
Fatores genéticos também podem desempenhar um papel, uma vez que foi observado que o alongamento do processo estiloide ocorre em algumas famílias. Além disso, alguns estudos indicam que a condição pode surgir como resultado de processos degenerativos ou inflamatórios que afetam os ligamentos e tecidos moles da região cervical.
Duas formas principais da síndrome foram identificadas:
1. Síndrome Clássica de Eagle
A síndrome clássica está frequentemente associada a um trauma ou cirurgia prévia nas amígdalas. Portanto, após a remoção das amígdalas, o tecido cicatricial pode se formar ao redor do processo estiloide alongado, o que pode resultar em compressão de nervos e dor. Os sintomas incluem dor na garganta, sensação de corpo estranho, dificuldade para engolir e dor irradiada para o ouvido.
Dessa forma, pacientes que retiraram as amígdalas e se queixam desses sintomas devem ser investigados.
2. Síndrome Estilocarotídea
A segunda forma da síndrome ocorre quando o processo estiloide alongado ou calcificado comprime as artérias carótidas internas, ou externas, causando sintomas neurológicos.
Isso pode incluir dores de cabeça, tontura, visão embaçada, síncope e até sintomas isquêmicos, como ataque isquêmico transitório (AIT) ou acidente vascular cerebral (AVC).
Sintomas da Síndrome de Eagle
Os sintomas da Síndrome de Eagle podem variar consideravelmente de pessoa para pessoa, dependendo da gravidade da condição e de quais estruturas estão sendo comprimidas ou irritadas.
Sendo assim, muitas vezes os sintomas são intermitentes e podem piorar devido movimentos do pescoço, mastigação ou bocejo.
Principais sintomas da Síndrome Clássica:
- Dor na garganta e pescoço: muitas vezes descrita como uma dor aguda ou sensação de queimação, localizada na região da mandíbula ou sob o maxilar.
- Sensação de corpo estranho na garganta: alguns pacientes relatam sentir como se algo estivesse preso na garganta.
- Dificuldade para engolir (disfagia): a dor ao engolir pode ser intensa, e os pacientes muitas vezes evitam comer alimentos sólidos.
- Dor irradiada para o ouvido (otalgia): a dor no ouvido, embora comum, muitas vezes não está relacionada a problemas auditivos.
- Dor facial: pode irradiar para a mandíbula, língua ou até para a parte posterior da cabeça.
- Mudanças na voz: em alguns casos, há alterações vocais leves, como rouquidão ou dificuldade em falar.
Sintomas da Síndrome Estilocarotídea:
- Dores de cabeça: as dores de cabeça podem ocorrer principalmente na região temporomandibular ou cervical.
- Tontura e vertigem: o processo estiloide pode pressionar a artéria carótida, levando a sintomas de diminuição do fluxo sanguíneo para o cérebro.
- Problemas visuais: visão turva ou embaçada é comum, e pode haver um risco aumentado de isquemia ocular.
- Síncope ou desmaios: em casos graves, a compressão arterial pode levar à síncope.
- Sintomas neurológicos transientes: incluindo fraqueza, dormência, ou até paralisia parcial temporária, que pode imitar um AIT ou AVC.
Diagnóstico da Síndrome de Eagle
O diagnóstico da Síndrome de Eagle pode ser desafiador devido à natureza dos sintomas, que muitas vezes se sobrepõem a outras condições médicas mais comuns, como disfunções temporomandibulares, neuralgias ou problemas cervicais.
Portanto, um diagnóstico preciso geralmente envolve uma combinação de exame físico, histórico clínico detalhado e exames de imagem.
Exame Físico
Durante o exame físico, se pode palpar o processo estiloide na região da amígdala e solicitar ao paciente que realize movimentos da cabeça e do pescoço para determinar se a dor ou os sintomas são provocados, ou agravados.
Exames de Imagem
O diagnóstico definitivo costuma ser feito por meio de exames de imagem. Raios-x, tomografia computadorizada (TC) e, ocasionalmente, ressonância magnética (RM) são usados para medir o comprimento do processo estiloide e identificar qualquer calcificação anormal do ligamento estilohioideo. Entretanto, a tomografia computadorizada é a mais usada por fornecer imagens tridimensionais detalhadas da estrutura óssea.
Em alguns casos, o uso de injeções de anestésicos locais na área do processo estiloide pode ajudar a confirmar o diagnóstico. Se os sintomas do paciente desaparecerem temporariamente após a injeção, isso indica que o processo estiloide ou o ligamento calcificado está, de fato, causando os sintomas.
Tratamento da Síndrome de Eagle
O tratamento da Síndrome de Eagle varia dependendo da gravidade dos sintomas e do grau de envolvimento das estruturas anatômicas. Em casos leves, o tratamento conservador pode ser eficaz, enquanto casos mais graves podem exigir intervenção cirúrgica.
Tratamento conservador
O tratamento conservador é o primeiro passo para pacientes com sintomas leves a moderados. Ele pode incluir:
- Medicamentos para dor: anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) como ibuprofeno podem ajudar a aliviar a dor e a inflamação.
- Injeções de anestésicos locais e esteroides: essas injeções podem ser administradas diretamente na área ao redor do processo estiloide para aliviar temporariamente a dor.
- Fisioterapia: Técnicas de mobilização cervical e exercícios para fortalecer os músculos do pescoço podem ajudar a reduzir o desconforto.
É muito importante realizar um trabalho multidisciplinar com esses pacientes par garantir um bom prognóstico da condição.
Tratamento cirúrgico
Em casos graves, especialmente quando o tratamento conservador falha, a cirurgia pode ser necessária para encurtar ou remover o processo estiloide alongado. O procedimento é chamado de estiloidectomia.
Existem duas abordagens cirúrgicas principais:
- Estiloidectomia Intraoral: O processo estiloide é removido mediante uma incisão dentro da boca, na região da amígdala. Esta abordagem evita cicatrizes visíveis, mas pode aumentar o risco de infecção.
- Estiloidectomia Extraporal: Neste método, o processo estiloide é acessado mediante uma incisão no pescoço, o que proporciona uma visão direta melhor para o cirurgião, mas deixa uma cicatriz pequena na pele.
Ambas as técnicas são eficazes, e a escolha da abordagem depende da preferência do cirurgião e da anatomia do paciente. O tempo de recuperação varia, mas a maioria dos pacientes experimenta alívio significativo dos sintomas dentro de algumas semanas após a cirurgia.
Prognóstico e qualidade de vida
O prognóstico para pacientes com Síndrome de Eagle é geralmente bom, especialmente em casos em que a cirurgia é realizada com sucesso. Muitos pacientes relatam alívio completo ou significativo dos sintomas após a remoção do processo estiloide. No entanto, como em qualquer intervenção cirúrgica, existem riscos, incluindo infecção, lesão nervosa e cicatrização inadequada.
É importante lembrar que a Síndrome de Eagle é uma condição crônica, e em alguns casos, os sintomas podem retornar mesmo após o tratamento. O acompanhamento regular com um otorrinolaringologista ou cirurgião maxilofacial é essencial para garantir que qualquer recidiva seja gerenciada adequadamente.
Portanto, a Síndrome de Eagle é uma condição debilitante e de grande impacto na vida dos pacientes, tendo o dentista um grande papel no manejo da doença. Dessa maneira, o dentista deve sempre procurar se atualizar sobre condições raras, uma vez que possui importante papel tanto na detecção da condição como no acompanhamento e colaboração com demais especialistas.